Questionário

Thursday 29 September 2011

Esperteza Saloia: em vez de um TGV vamos ter dois AVE

Os comboios de alta velocidade (TGV na designação Francesa e AVE na designação Espanhola) voltam a estar no centro do debate político. O Ministro da Economia acaba de anunciar que em vez de um comboio de alta velocidade (TGV) vamos ter dois comboios de alta prestação (AVE?), combinando o transporte de passageiros e de mercadorias numa mesma linha de bitola Europeia, e ligando os portos de Aveiro a Salamanca e o de Sines a Madrid.

Um Partido que se opunha ao TGV por razões financeiras, assim que chega ao poder já não quer fazer uma mas sim duas linhas. Depois esperem que os mercados acreditem em nós, digam que não somos a Grécia etc. etc.

Esta ideia peregrina, demonstra que o Ministro não percebe de portos nem de transporte de mercadorias e, porventura devido à sua longa estadia no oeste do Canadá, desconhece o mapa da Península Ibérica e a dimensão de Portugal. Por favor, alguém mostre ao Ministro um mapa dos portos na Península Ibérica. Por exemplo este com os portos Espanhóis.


Mesmo sem se saber que Espanha é o sétimo país mais competitivo da Europa e o 13º no Mundo em Tráfego Marítimo e dois dos seus portos (Barcelona e Las Palmas) estão entre os 20 mais centrais das rotas de navegação mundiais, basta olhar o mapa acima para constatar que apenas três cidades espanholas de pequena dimensão estão geograficamente mais perto dos portos Portugueses (Salamanca com 155 mil habitantes, Cáceres com 95 mil e Badajoz com 150 mil).

Por isso, querer transportar mercadorias para o resto de Espanha e para França por via ferroviária é uma ideia utópica; e pensar em utilizar os portos Portugueses para transbordo de carga destinada ao resto de Espanha ou da Europa não lembraria ao maior dos loucos.

Se quiserem uma demonstração simples basta vir a Aveiro e tentar ver o movimento do recentemente construído ramal ferroviário de ligação ao Porto de Aveiro. Eu vivo cá e devo confessar que nunca lá vi passar um comboio. Também o famoso porto de águas profundas em Sines, onde se desbarataram inutilmente muitos milhões de contos, afinal é um mito. Qualquer veraneante que lá passe férias pode constatar que os poucos navios de grande tonelagem que lá fazem escala têm de aguardar muitas horas ou mesmo dias fora do porto à espera de ser rebocados para atracagem.

Em suma o tráfego dos portos Portugueses será sobretudo determinado pela capacidade de transportar as mercadorias importadas e exportadas por Portugal. Isto é, a sua competitividade tem de ser construída à custa dos transportes rodoviários (TIR ) de longo curso e não do transporte ferroviário que jamais será competitivo.

Para ilustrar que a emenda é pior que o soneto, pode usar-se a seguinte analogia. Antes, com um subsídio de 210 mil Euros (70%), queriam convencer-nos a comprar um Ferrari de 300 mil Euros, de que não precisávamos e que nos obrigava a investir 90 mil Euros que não tínhamos; deixando-nos com um custo de manutenção anual de 30 mil Euros, muito superior aos 3 mil que podíamos pagar. Agora vêm-nos propor um subsídio de 240 mil Euros para nós comprarmos dois Porsche por 400 mil Euros, de que também não precisamos, obrigando-nos a investir 160 mil Euros que não temos, e criando-nos um encargo anual de mais 37 mil Euros acima do que nós podemos pagar.

Em suma na primeira proposta para “aproveitar” os 210 mil Euros de subsídios comunitários desbaratávamos 630 mil Euros, agora com a nova proposta para “aproveitar” os 240 mil Euros de subsídio desbaratamos 900 mil Euros. Grande negócio!

Será que o Primeiro-ministro ou o Ministro das Finanças não vão ter o bom senso de acabar com esta loucura? Esperemos que sim. Sobretudo, quando há uma alternativa muito simples, proposta por nós (neste artigo), para nos desembaraçarmos do imbróglio do TGV.

1 comment:

  1. transporte ferroviario que jamais será competitivo...

    O que o senhor se esquece é que só na costa Portuguesa se encontra os portos com maior profundidade da peninsula..

    Tão pouco fez contas realistas relativamente ao custos do transporte de mercadorias por via ferroviaria e pan-europeia.

    Tão pouco tem em conta que hoje em dia o transporte de mercadorias por via rodoviária está muitíssimo mais cara que à 10 anos atrás.

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