Questionário

Wednesday, 16 July 2014

Professor Jacinto Nunes – uma lição do mestre sobre supervisão bancária

Esta semana faleceu o Professor Jacinto Nunes. A sua família, o país, e todos os que tivemos o privilégio de o conhecer ficaram mais pobres. A última vez que o cumprimentei foi na receção que se seguiu à última tomada de posse do Presidente da Republica. Fiquei com a impressão de que já não me reconheceu, talvez devido ao congestionamento de pessoas na sala, mas não deixou de me transmitir a sua habitual simpatia. É normal que depois de tantos anos os mestres confundam os seus alunos, mas para os alunos há mestres que marcam para o resto da vida. Foi o que aconteceu comigo em relação ao Professor Jacinto Nunes.

Jacinto Nunes foi meu professor em 1974 ou 1975, creio que na disciplina de Política Monetária, pois já não me lembro bem do ano nem do nome da disciplina. No entanto houve uma lição dele de que nunca me esqueci – sobre a eficácia da supervisão bancária, tema que nos últimos tempos se revelou muito importante em Portugal.

Recordo-me como ele nos explicou porque é que supervisores pouco preparados e mal pagos não podiam fazer bem o seu trabalho. Contou-nos que no passado os supervisores do Banco de Portugal eram tão mal pagos relativamente aos restantes bancários que quando chegavam a um banco ficavam logo intimidados com o edifício e com os caixas do banco. E, quando eram conduzidos ao andar da Administração, já mal conseguiam falar e muito menos questionar perante a altivez dos respetivos administradores e secretariado.

Anos mais tarde, quando trabalhei na banca de investimento, tive ocasião de presenciar situações semelhantes às descritas pelo Professor e outras de sentido exatamente oposto. Isto é, casos onde os supervisores eram tão bem pagos que fechavam os olhos a tudo o que pudesse por em perigo o seu estatuto remuneratório ou futuras oportunidades como administradores não executivos das entidades supervisionadas.

A solução para o problema de como remunerar pessoas com funções fiscalizadoras é antiga e universal. Por um lado, têm de ser bem remuneradas para que possam ter a independência necessária à sua função, mas por outro não podem ser demasiado remuneradas para que não fiquem prisioneiras do seu estatuto.

A grande dificuldade está em encontrar o meio-termo adequado. Na banca hoje é cada vez mais difícil de definir esse nível porque o leque remuneratório aumentou do tradicional 20/1 para 150/1. Nestas circunstâncias não há fórmulas mágicas que nos ajudem. Teremos de recorrer a pessoas sábias com a modéstia e o bom senso do Professor Jacinto Nunes, tão bem expressas no seu livro de “Memórias Soltas”, que vivamente recomendo.