Os nossos primos e amigos brasileiros amanhã têm de escolher entre dois candidatos presidenciais que são potenciais ditadores de direita e esquerda. O que fazer quando a escolha é entre dois males? Há duas opções. Votar em branco, ou votar no mal menor. A primeira opção não é verdadeiramente uma opção porque o voto branco, desculpando a consciência individual, significa deixar a escolha aos outros. Por isso, mesmo a contragosto, vocês terão de escolher o mal menor.
Qual é o mal menor, visto deste lado do atlântico?
Votar em Bolsonaro é arriscar voltar a uma ditadura de inspiração fascista como a de Getúlio Vargas (1937-1945) ou militar como a de 1964-1985 , e votar em Haddad é arriscar uma ditadura socialista como a de Maduro na Venezuela?
Para os adeptos da extrema direita ou da extrema esquerda a escolha é fácil, mas para os eleitores do centro direita e do centro esquerda a escolha é difícil. Na verdade, apenas podem decidir com base em duas questões:
a) qual o candidato mais fácil de parar no caso de querer destruir a democracia;
b) se não for possível impedir um regime ditatorial, qual é o candidato mais facilmente reversível?
As experiências de Portugal e do Brasil têm muitas coisas em comum. Quer Salazar quer Vargas, embora simpatizando com a doutrina fascista, recuaram perante o extremismo de Mussolini e de Hitler tendo contido os elementos fascistas mais radicais, respetivamente Rolão Preto e Integralistas Brasileiros da AIB. Porém, ambos tentaram perpetuar-se no poder. Salazar até 1974 e a Junta Militar no Brasil até 1985. Na fase final, ambos tiveram que apoiar-se nos jovens tecnocratas para não ficarem a ver passar o comboio do desenvolvimento económico. Porém, tal desenvolvimento não podia continuar sem a liberalização e democratização e ambos os países fizeram uma transição pacífica para a democracia.
Infelizmente essa transição pacífica acabou por ser naturalmente dirigida pela esquerda por ser esta a menos comprometida com o anterior regime. Na verdade, hoje o problema de Portugal e do Brasil voltou a ser o mesmo: como evitar que a esquerda democrática resvale para uma esquerda totalitária?
Na Europa do Norte e Central, a social-democracia tem conseguido evitar o resvalar da esquerda para o socialismo radical e comunista, mas nos países do Sul da Europa tem sido mais difícil. Em Portugal, Soares/Cavaco conseguiram fazê-lo até que foram substituídos por um líder fraco (Guterres) que inevitavelmente deu lugar a uma fação mais esquerdista (Sócrates/Costa) que hoje nos governa. No entanto, no Brasil a transição foi muito mais brusca passando de Fernando Henriques Cardoso para Lula e o Partido Trabalhista sem um “Guterres” pelo meio.
Por isso, o Brasil ficou muito mais próximo da terceira fase da transição do socialismo democrático para uma ditadura de esquerda (a fase Chaves/Maduro). Ou seja, avançou mais rapidamente no caminho da criação de uma casta partidária corrupta que só consegue sobreviver através de uma cada vez maior violência sobre os opositores, reforço do aparelho de estado e controle da economia e da comunicação social.
Amanhã, só os Brasileiros estão em posição de avaliar qual dos dois candidatos poderá resvalar rapidamente para uma ditadura.
Algo que a América Latina conhece bem são ditaduras de esquerda e de direita.
O que por vezes esquece é o legado e a duração dessas ditaduras. Caros amigos Brasileiros, para relembrar apenas alguns ditadores, aqui vos deixo os seguintes nomes:
a) À esquerda – Chaves/Maduro (1999-2013/presente); Fidel Castro 1959-2008/presente e Daniel Ortega (1979-1990);
b) À direita – Pinochet (1973-1990); Stroessner (1954-1989) e Somoza (1967-1979).
Boa sorte para amanhã. Na segunda-feira recomeça a vossa e a nossa luta pela preservação da democracia.
Saturday, 27 October 2018
Brasil: A escolha entre dois males
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