A recente tentativa falhada dos apoiantes do Primeiro Ministro Sócrates para controlar a comunicação social em Portugal tem tanto de grotesco que não pode deixar de ser equiparada às paranóias típicas dos regimes em fim de vida. Por exemplo o facto de ter podido nomear dois dos seus "muchachos" para administradores executivos de uma grande empresa onde o Estado apenas tem uns centavos investidos lembra-nos o império Romano quando o imperador Calígula nomeou para cônsul o seu cavalo favorito. Para nós a questão não está em saber se Sócrates sai amanhã, daqui a três ou a sete anos.
O que nos interessa é analisar se o novo ciclo será mais um, na sequência dos três ciclos pós-25 de Abril a que assisti pessoalmente, ou trará uma profunda transformação na sociedade portuguesa. Infelizmente o pessimismo e falta de ideias reinante entre nós faz com que as minhas expectativas não sejam muito elevadas. Porém, isso não significa necessariamente que uma mudança para melhor não possa acontecer nos tempos mais próximos.
Por exemplo, lembro-me de em Março de 1974 ao sair do ISE (hoje ISEG) pelo portão da Miguel Lupi ouvir um militar (general?) que aí vivia comentar que o golpe das Caldas tinha falhado. Como na antevéspera tinha assistido na TV à demonstração de vassalagem ao primeiro-ministro Professor Marcelo Caetano por parte da chamada brigada do reumático, senti-me pessimista e não imaginava que em breve estaria a caminhar livremente em direcção ao Estádio Primeiro de Maio, cheio de alegria e utopia sobre o futuro brilhante de Portugal no pós-25 de Abril.
No entanto, após alguns meses a trabalhar no movimento sindical, aprendi rápidamente que a natureza humana quando movida apenas pelo desejo de vingar os atropelos do regime deposto rapidamente volta a praticar as mesmas tropelias. As vitimas do passado transformam-se nos carrascos do presente. Sómente sistemas genuinos de democracia representativa e liberalismo constitucional conseguem evitar tais comportamentos.
Também no Outono de 1985, enquanto aguardava no hotel Solneve da Covilhã os resultados da votação no PRD e eles chegavam melhor do que esperavamos, reinava uma nova esperança em torno do novo partido. Um partido que não iria apenas encerrar o PREC mas também inroduzir uma nova ética política. Porém o tempo cedo se encarregaria de rápidamente me dar uma segunda lição sobre a natureza humana. Não basta criticar a ausência de valores éticos se não tivermos valores alternativos para promover. Valores baseados na igualdade de oportunidades e na liberdade humana de acordo com os ideais do iluminismo. Nessa altura também não antecipei que em breve se iniciaria um novo ciclo de crescimento económico baseado na promoção de obras públicas - habitualmente designado por Cavaquismo.
De igual modo, em 1995, quando ainda vivia em Londres, acompanhei à distância o ínicio do ciclo socialista que eu tomei como uma mera pausa no ciclo Cavaquista. De facto, quando regressei em 1998, mais velho e conservador, ainda fiz uma pequena diligência para voltar à política activa. Tentativa que imediatamente abandonei quando Marcelo Rebelo de Sousa se demitiu de lider do PSD e foi substituido por uma geração de ex-Jotas sem ideias próprias nem profissão. Jotas para quem a política fora apenas um trampolim usado pelos cábulas para obterem uma carreira profissional que nunca tentaram nem coseguiriam construir através do método tradicional de estudar e trabalhar afincadmente para ter sucesso na vida.
Quer o ciclo actual seja o último ou o penúltimo do regime de capitalismo de estado socialista e social democrata implantado com a III República, o que é importante é que o actual ciclo não venha a ser substituido por novo tipo de capitalismo de estado, seja ele de direita, esquerda, oligárquico, mafioso ou de qualquer outro tipo.
Após um século de instabilidade política e social que se seguiu às invasões Francesas e dos mais de 80 anos de capitalismo de estado que se seguiram à Primeira República o país precisa de virar esssa página menos feliz da sua história recente. Um futuro diferente só pode construir-se verdadeiramente na base de um novo regime assente no capitalismo de mercado, um dos seis pilares da felicidade humana que constituem o tema deste blog.
Saturday, 13 February 2010
Um novo ciclo ou um novo regime político-económico para Portugal?
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