Ontem ao ouvir as notícias sobre uma nova empreitada ganha pela Martifer no Brazil fiquei estupefacto pela baixa qualidade do jornalismo actual.
Um canal dava a notícia como se a empresa tivesse sido especialmente escolhida para construir o estádio onde irá ter lugar a final do Mundial. Outro noticiava que a empresa tinha ganho o concurso para a construção de um dos doze novos estádios a construir, concretamente o da Baía. Finalmente, um terceiro noticiava que a empresa tinha assinado um contrato com o consórcio Odebrecht OAS para a construção das infra-estruturas metálicas do estádio da Baía. Apenas a última dá uma versão verdadeira do negócio; as restantes fizeram um empolamento enganador da notícia.
Infelizmente não é caso único, nem mesmo o pior dos casos. Frequentemente, ouvimos nos Telejornais referências a declarações chocantes de diversas personalidades ou a eventos extraordinários, mas quando de seguida ouvimos as respectivas reportagens ou declarações constatamos que foi dito exactamente o contrário, ou que a declaração foi tirada do seu contexto deturpando o sentido geral da opinião expressa pelas pessoas em causa.
A que se deve esta falta de credibilidade de algum jornalismo Português? Será por falta de liberdade ou por incompetência?
Por incompetência não devia ser. Num país onde proliferam os cursos de Comunicação Social, espera-se que os seus alunos aprendam pelo menos a diferença entre jornalismo e comunicação e que saibam distinguir uma notícia, duma opinião e dum anúncio.
A liberdade de informação é indispensável em qualquer sistema democrático. Essa liberdade tem de ser assegurada de múltiplas formas, desde a protecção contra perseguições judiciais e extra-judiciais até à protecção das respectivas fontes. Formalmente essas garantias estão asseguradas em Portugal, apesar do lamentável caso das escutas ocorrido recentemente.
Existe no entanto um outro tipo de liberdade que também é importante. Refiro-me à liberdade económica. Esta tanto pode ser posta em causa por uma concorrência desenfreada por títulos sensacionalistas para atrair audiências (muitas vezes falsos ou especulativos). Como pode ser inibida por submissão às exigências de anunciantes pouco escrupulosos. Ou ainda pelo necessidade de recorrer a atalhos duvidosos por falta de meios humanos e materiais para procurara ou averiguar a credibilidade das notícias.
A crise financeira por que passa a maioria dos órgãos de comunicação social dependentes da publicidade torna o jornalismo Português particularmente vulnerável à falta de liberdade económica.
Nestas circunstâncias os jornalistas são uma presa fácil das empresas de relações públicas que através deles podem manipular sub-repticiamente a opinião pública. Entre nós esta actividade é ainda pouco conhecida ou confundida com a publicidade. Mas a sua identificação e regulamentação é indispensável para melhorar o jornalismo em Portugal.
Thursday, 15 September 2011
Os Problemas do Jornalismo em Portugal
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