O Presidente da República condecora hoje António Mexia presidente da EDP. De momento não me ocorre nenhum serviço público relevante prestado pelo condecorado, mas seguramente que a Presidência invocará alguns. No entanto, o momento parece-me infeliz.
Numa altura em que a Troika procura fazer cumprir a sua promessa tímida de reduzir as rendas excessivas no sector das energias, condecorar o principal lider da oposição a essa redução é no mínimo incompreensível.
Mas não só. Acontece também que no imaginário popular esse gestor é dos mais bem pagos no país e aparece aos olhos do povo como o símbolo da ganância e indiferença perante os sacrifícios impostos à generalidade dos Portugueses.
Têm duvidas? Vejamos os fatos comparando os biénios pré e pós Troika.
Entre 2010 e 2012 a evolução dos preços da energia em Portugal comparada à dos outros preços ao consumidor e à do preço do petróleo foi a que podemos observar no seguinte gráfico.
Como podemos constatar, em Junho de 2013 os preços do Petróleo tinham caído 10% mas os preços da energia pagos pelo consumidor Português tinham aumentado 10%, enquanto os preços dos restantes bens permaneceram quase na mesma nos primeiros dois anos pós Troika.
Entretanto, o que aconteceu às remunerações desse quando comparadas com, por exemplo, um professor universitário. O último recebeu ilíquidos no biénio pré Troika 119.1 mil Euros e no pós Troika 99.6 mil Euros, tendo sofrido um corte salarial de 16.4%. Nos mesmos biénios António Mexia recebeu, respetivamente, 2358 e 2257 milhares de Euros pelo que teve um corte de apenas 5.1%.
Será que tamanha diferença se explica pelo desempenho das empresas dirigidas por esse gestor? Os números mostram que não. Nos mesmos biénios os resultados por ação da EDP subiram apenas de 58 para 59 cêntimos.
Que a Presidência da República tenha ignorado estes factos é no mínimo incompreensível
Porém, as consequências são graves a três níveis:
a) Transmite uma imagem de subordinação do poder político ao poder económico, dando à Troika um pretexto para esquecer mais uma vez o objetivo de redução das rendas excessivas no setor energético;
b) Agrava o sentimento de injustiça que o povo sente na distribuição dos sacrifícios impostos pelo programa de ajustamento; e, sobretudo
c) Desprestigia a Presidência da República enquanto último garante dos Portugueses, aparecendo cada vez mais alheada do povo e da realidade.
Pessoalmente, tendo integrado da Comissão de Apoio à reeleição do Presidente da República, entristece-me vê-lo aproximar-se do final do seu mandato numa posição que me faz lembrar a de Américo Tomás no regime anterior ao 25 de Abril.
As condecorações, tal como outros gestos simbólicos, valem pela oportunidade com que são atribuídos. Por isso, não podemos deixar de considerar esta condecoração como tão inoportuna que até parece uma afronta aos Portugueses.
P.S. Numa versão anterior deste post tinhamos incluido o nome de Ferreira de Oliveira, Presidente da Galp, que na notícia que ouvimos na rádio confundimos com o de Faria de Oliveira. As nossas desculpas ao visado por este equivoco.
Wednesday, 30 April 2014
Condecorações Inoportunas
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