Questionário

Monday, 10 November 2014

Sim, “Podemos”, mas não queremos!

O reaparecimento na Europa de partidos que contestam a partidocracia existente em muitos países pode ser um fenómeno passageiro e positivo mas também pode transformar-se num perigo para a paz e democracia. O ressurgimento de movimentos ou partidos alternativos acontece tanto à esquerda como à direita. Na direita os casos mais significativos são o IUKP, Partido para a Independência do Reino Unido, a Frente Nacional na França e o Partido Anti Euro na Alemanha. À esquerda os partidos mais significativos são a Coligação de Esquerda Radical na Grécia (SYRIZA) e o partido Podemos em Espanha.

O aparecimento de partidos anti sistema criados em torno de questões específicas (regionais, imigração, ambiente, agricultura, reformados, utopias, etc.) ou de celebridades mediáticas (por exemplo Marinho Pinto em Portugal) são comuns e de curta duração acabando por desaparecer ou ficar reduzidos a um pequeno número de parlamentares. O seu aparecimento é positivo pois trás uma lufada de ar fresco e humor à vida parlamentar sem por em causa a estabilidade política.

Porém, os partidos acima citados beneficiaram da insatisfação nacional (anti Euro no Reino Unido e Alemanha, imigração em França, austeridade na Grécia e independentismo na Espanha) para atingirem um nível eleitoral que pode por em causa a própria democracia e a União Europeia. Um tal descalabro poderá ser facilitado por circunstâncias internacionais, como o neocomunismo de Putin na Rússia, o fundamentalismo islâmico e o antissemitismo no Médio Oriente ou por motivos nacionais como a desagregação do estado-nação na Espanha.

O caso Espanhol é porventura o mais dramático, pois o partido Podemos surgiu há menos de um ano e já supera os dois principais partidos nas intenções de voto dos eleitores Espanhóis. Como explicar esta erupção do partido Podemos? Na verdade, este partido não trás nada de novo. Em termos ideológicos limita-se a repetir uma série de utopias típicas da extrema-esquerda embora reforçadas com toques anarquistas e antipolíticos.

Para percebermos o seu sucesso temos pois de equacionar o conjunto de circunstâncias que o propiciaram. Desde logo, o famoso temperamento e impaciência do povo Espanhol que o levam a alternar entre extremos como por exemplo o anarquismo e o fascismo no século passado. Depois o sentido de insegurança provocado pelas autonomias, pelo desemprego elevado e até pelos problemas na família real.

Estas particularidades foram habilmente exploradas por um jovem carismático e celebridade televisiva (Pablo Iglésias) e encontraram uma grande recetividade nos intelectuais insatisfeitos com a democracia representativa e entre os jovens naturalmente sequiosos de utopias.

Ambos os motivos de insatisfação são razoáveis, mas as alternativas propostas seriam bem piores. Por exemplo, na era das redes sociais a apropriação da democracia representativa por oligarquias partidárias que apenas se servem a si próprias torna-se mais visível e é natural que os eleitores se deixem seduzir por ideias antigas, mas perigosas, como a democracia participativa ou a democracia popular. No entanto, a história está repleta de experiências dessas que acabaram invariavelmente em ditaduras. Por isso, é importante explicar aos mais jovens o que deve ser a democracia representativa, quais as suas limitações e como podemos aperfeiçoá-la.

A procura de utopias é, felizmente, uma das virtudes da adolescência e da juventude. Aos adultos cabe moderá-la o quanto baste. Quando ensinamos a uma criança que não pode comer todos os chocolates que lhe apetece, temos três métodos: deixá-la aprender à sua própria custa (i.e. comer até ir parar ao hospital com diarreia), proibir os chocolates e castigar severamente a desobediência ou deixá-los comer apenas com moderação e explicar-lhes porquê. Para os adultos, o deixar fazer ou o reprimir são sempre as soluções mais fáceis, mas, infelizmente, as menos eficazes e as mais perigosas, sobretudo quando os riscos são irreversíveis.

Por exemplo, nos anos sessenta, nós contestámos o materialismo dos nossos pais e pretendíamos criar um mundo baseado no amor livre, musica, drogas e vida comunitária. A vida ensinou-nos naturalmente que o “amor e uma cabana” é uma utopia que dura menos do que uma paixão de verão e acabámos por nos integrar na democracia representativa sem fazer a revolução que idealizávamos. Mas conseguimos algo - uma sociedade mais livre de preconceitos sociais e preocupações materiais. No entanto, tal como a obesidade ou as borbulhas causadas pelo chocolate, também o nosso idealismo deixou marcas duradouras na geração seguinte em termos de desagregação familiar e alienação.

Pelo contrário, a geração atual é materialista nos seus desejos (sejam eles roupas de marca, viagens, etc.) mas é idealista ao pensar que o consumismo é um direito que deve ser assegurado pelo estado ou pelos pais. Se, como nós, vier a aprender por experiência própria que tal só se conquista com trabalho será a evolução natural das coisas. Porém, se tal como no passado, a sua ânsia for explorada por demagogos com fins revolucionários, acabará por cair num dos conhecidos abismos anticapitalistas - sejam eles do tipo comunista ou fascista.

É neste sentido que os Espanhóis correm perigo com o partido “Podemos”. Quais são os objetivos deste partido:

1) Assembleias de cidadãos, i.e. democracia popular - todos sabemos como essas experiências acabaram em ditadura na Rússia, Coreia, Espanha ou Cuba;
2) Recuperar a economia, quem não quer? A questão está em como: através do mercado ou, como eles deixam antever, através da coletivização cujos resultados são sobejamente conhecidos;
3) Conquistar a liberdade, de quem? Já vivemos numa sociedade livre;
4) Conquistar a igualdade, de quê? género, direitos, deveres, rendimento ou riqueza? Todos sabemos como acabaram as Revoluções Francesa e Russa;
5) Recuperar a fraternidade, como? Quando o partido defende mais promiscuidade e menos família e cerca de metade da população já depende do estado social;
6) Conquistar a soberania, a que nível? Local, regional, nacional, continental ou global. Para quê? Para acabar com a União Europeia, que tanto custou a criar, e voltar aos nacionalismos que tantas guerras fomentaram na Europa;
7) Recuperar a terra, para quem? Parece que desconhecem o desastre da reforma agrária no Alentejo ou a experiência de Mao que matou milhões de Chineses à fome.

Em conclusão, a juventude deve olhar para este programa e dizer:

Sim, podemos! Mas não queremos!
Não queremos voltar a ser escravizados!
Não queremos destruir a União Europeia!
Não queremos demagogias!

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