Questionário

Monday 17 October 2011

O Ranking de Escolas Secundárias e a Igualdade de Oportunidades

Este fim-de-semana os Jornais publicaram o ranking das escolas baseado nos resultados dos exames do secundário. Mais uma vez confirmou-se a tendência recente para a concentração dos melhores resultados nas escolas privadas. Num total de 565 Escolas com mais de 50 exames, as escolas Privadas ocuparam os primeiros 20 lugares e representam 80% das escolas no top 10% com melhores resultados. O reverso deste excelente resultado dos privados é obviamente o mau resultado das escolas Públicas.

Há certamente algumas razões aceitáveis para explicar parcialmente os maus resultados das escolas Públicas, tais como a instabilidade contratual dos docentes provocada pela ingerência permanente dos sindicatos e dos governos na gestão das escolas, mas a maioria das desculpas que ouvimos são falaciosas. Por exemplo o excesso de alunos não impediu uma escola Privada (o Externato Ribadouro) de atingir o segundo melhor lugar no ranking total.

Porém hoje não discutiremos as causas do falhanço da escola Pública mas antes as suas consequências. Em particular o seu impacto na desigualdade de oportunidades no acesso às profissões e cargos mais desejados socialmente.

É sabido que nas sociedades modernas um número reduzido de três ou quatro universidades constitui a principal porta de acesso aos melhores empregos. Este fenómeno cria uma “luta acesa” por conseguir um lugar nessas universidades, levando os pais dos alunos a investir sobretudo no ensino pré-universitário o que gera uma diferenciação entre escolas públicas e privadas; resultando num enviesamento que favorece os ricos e os residentes em Lisboa e no Porto.

Para avaliar as consequências de tal enviesamento imagine-se um exemplo numérico onde as universidades de elite oferecem 100 vagas para um total de 900 candidatos. Os candidatos dividem-se por três grupos iguais de alunos normais, bons e excelentes repartidos em termos de origem social por dois grupos - os abastados (20%) e os restantes. Em concorrência normal haveria três candidatos excelentes a cada vaga nas universidades de elite e, não havendo discriminação social, entrariam 20 alunos de origem abastada e 80 de origem não abastada, todos excelentes alunos.

Porém, como os alunos de origem abastada seriam também talentosos a frequência de uma boa escola privada e o investimento adicional em explicações permitir-lhes-á obter notas melhores que as dos não abastados marginalmente mais talentosos. Por isso, é provável que com tal apoio mais de 80% dos candidatos abastados consiga entrar, preenchendo 50% das vagas, e deixando apenas 50 vagas para os 240 candidatos não abastados. Isto é, a taxa de admissão dos abastados nas universidades de elite seria de 83.3% enquanto a dos não abastados era de apenas 20.8%.

O facto de quase 80% dos alunos talentosos ter de optar por universidades de segunda e terceira linha é bom para essas universidades mas prejudica a carreira desses alunos com o estigma de não terem passado por uma universidade de elite.

Note-se que no nosso país, onde não existe uma grande tradição de frequentar escolas com internamento, a desigualdade de oportunidades é também causada pela falta de oportunidades nas cidades da província. Aqui, frequentemente mesmo os mais abastados não têm acesso a escolas públicas ou privadas de qualidade.

Por exemplo na região de Aveiro onde a qualidade média das escolas é bastante boa não existe nenhuma escola de topo (das 7 escolas públicas e uma privada, apenas uma ficou classificada abaixo da média, mas a melhor ficou apenas em 68º lugar). Também na região da Covilhã, onde existem 5 escolas públicas e duas privadas e a qualidade média das escolas é mais baixa, não existe qualquer escola de topo tendo a melhor escola (o meu antigo Liceu) ficado apenas em 136º.

A solução para este desequilíbrio na igualdade de oportunidades passa obviamente pela melhoria da qualidade do ensino Público em geral ao nível nacional. Essa tarefa poderá demorar muitos anos. No entanto, no imediato as autoridades podiam começar por resolver as desigualdades regionais apoiando o desenvolvimento de pelo menos uma escola de topo em cada uma das principais cidades da província.

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