Questionário

Tuesday, 24 April 2012

Grupos ou classes sociais?

As ciências sociais precisam de dividir a população em várias categorias ou estratos, consoante a natureza da sua investigação. Por exemplo, a demografia pode classificar as pessoas em grupos etários ou geográficos. Já a economia pode agrupá-las por escalões de rendimento e riqueza ou em termos de ocupação profissional. O mesmo sucede com outras ciências, nomeadamente a sociologia, teologia, antropologia, etc.


Porém, as categorias utilizadas tanto podem ser consideradas como meras arrumações estatísticas como podem ter uma forte conotação social. Neste caso elas poderão condicionar o modo de vida e as oportunidades dos seus membros. Em consequência, os grupos podem tornar-se mais ou menos fechados ou corporativos como forma de perpetuar o grupo.

Esta última percepção dos grupos está desde tempos imemoriais ligada ao conceito de classe social e de hereditariedade. No entanto, desde o iluminismo e subsequente ascensão das sociedades democráticas que as classes sociais passaram a ser mais abertas e a aceitar a mobilidade social. Por isso, os sociólogos (mesmo os de orientação Weberiana) têm tido dificuldades em arrumar os grupos sociais em classes bem definidas usando os tradicionais atributos da riqueza, status e poder. Por maioria de razão os sociólogos de tradição Marxista que ainda continuam agarrados a uma classificação dualista (burgueses e proletários) estão ainda mais desfasados da realidade actual.

Na verdade, um dos maiores progressos civilizacionais dos últimos duzentos anos foi certamente a mobilidade e diversidade social. Melhor, a grande proliferação de grupos sociais (organizados e não-organizados) não degenerou na temida desagregação social ou anarquia. Porquê?

Isso só foi possível graças ao triunfo dos ideais liberais, ainda que incompletos e continuamente contestados. Estes definem limites para a actuação dos grupos de interesses organizados (sindicatos, associações profissionais e patronais ou partidos políticos) e asseguram a liberdade e protecção constitucional dos indivíduos contra os abusos das maiorias.

Por isso, seria um grande retrocesso civilizacional voltar a defender a luta de classes como forma de resolver os conflitos de interesses entre os vários grupos sociais.

Nesta perspectiva, a decisão da Associação 25 de Abril em dissociar-se das comemorações oficiais do 25 de Abril por discordar da política do actual governo (a que aderiram algumas figuras de esquerda como Mário Soares e Manuel Alegre) é lamentável por pretender celebrar partidariamente uma efeméride que é nacional. A razão única de um feriado para celebrar o 25 de Abril é por ser o dia da liberdade.

Liberdade para todos os Portugueses – de esquerda, direita ou centro – sem distinções.

Tuesday, 17 April 2012

Nice job if you can get it!

Based on the Forbes chart reproduced below, one can see that the gravy train of CEO compensation has resumed its unstoppable acceleration.


Assuming the current average CEO pay and an average return of 5%, an investor would need to invest 200 million to achieve this level of income. Since there are no risk-free opportunities paying this type of return one must conclude that investors would be better off by “buying” a risk-free CEO job that pays this level of compensation.


Nevertheless, as shocking as these numbers are, they hide the true scale of the problem by mixing CEOs that are founders or significant investors in their companies (where compensation and dividends may be mingled) with CEOs that are simply managers. In particular, it hides the outrageous pay in the so-called managerial capitalistic sector.

This sector is run by the second type of managers. It includes all companies where control is exercised not by the owners but by incumbent management, and it can be divided in two broad categories – licensed monopolies/regulated firms and companies with a high level capital dispersion preventing individual investors from exercising control (typically companies with a float in excess of 95%).

The absurdity of such pay packages can be illustrated with reference to the greediest and the worst performing CEO, based on the Forbes list and SADIF Analytics rankings respectively. The first is John H Hammergren the CEO of McKesson´s, a drugs & biotechnology company, who earned a 6-year average compensation of $50.79 million. The second is Daniel R Hesse the CEO of Sprint Nextel, the telecommunications operator, who earned a handsome $.6.6 million last year. Their basic cash compensation and respective company´s stock price performance are depicted in the two charts below.


And, what have they achieved during their recent tenure? McKesson´s investors had a 6-year annual total return of 9% (a paltry 2% above the industry ETF), while Sprint´s investors total return was a huge loss of 31%. Another way to see what is at stake is to take the case of a large shareholder in McKesson´s, for instance the 8th largest (Glenview Capital Management, with a stake worth about $414.1 millions). They would need to have invested almost $250 million to earn an amount equivalent to just half of what the CEO made. That is, they would be better off by trying to “buy” the job for themselves.

Large organizations are bureaucracies whose short term performance is to a large extent independent of their leaders. Indeed, like governments, most would not notice if the CEO/President had taken a long leave of been replaced by a dummy. And, likewise those leaders who really shape their future would perform as well whether they earned 800k or 1600k.

So the sky-rocketing of management pay sparked by the rise of managerial capitalism in the 1980s is not a matter of performance reward but truly a case of CEO-Kleptocracy.

Monday, 16 April 2012

German fun vs. Spain´s pain

The debt markets are focusing on Spain again, and the debate between fiscal conservatives and stimulus proponents rages once more. Paul Krugman has just published another post showing that before the real estate bust Spain´s public debt was much lower than Germany´s. He compares net flows in 2010 and 2007 to state his case. This is not a reliable method to compare leverage levels. So here are the most recent balance sheet values as published by the OECD.


It is true that with an economic size of less than half the size of Germany (43%), Spain´s government debt was just one fifth of Germany´s public debt. However, the Spanish economy as whole had a net debt equivalent to almost 80% of GDP, while Germany was a net creditor, and between 2007 and 2010 increased its creditor position from 6% to 21% of GDP.

In what concerns the shares of public consumption in total GDP we can see from the following table that the share in Spain is only marginally higher than in Germany.


The fundamental difference between the two countries is that Spanish companies borrowed more than German firms while Spanish households saved very little when compared with those in Germany.

Moreover, some of the borrowing was financed by Germany and was mostly invested in loss-making real estate. Indeed, the robust public finances in pre-crisis Spain were the result of paper profits generated during the real estate bubble (in a fashion not much different from the Clinton surplus during the internet bubble).

So, the Spanish problem is a banking problem and should not be transformed into a long term fiscal problem, like in Ireland, which will compromise its future growth.

Wednesday, 4 April 2012

Reforma ou revolução?

Do que tenho escrito resulta claro que penso que o actual regime de capitalismo de estado de esquerda em Portugal se aproxima do fim. Não só porque nos próximos dez anos o actual regime ultrapassará em longevidade o regime do Estado Novo, mas também porque o regime dificilmente sobrevirá a uma dezena de anos sob tutela dos credores estrangeiros exercida através de sucessivos programas de ajustamento negociados com a Troika.

O regime que lhe vier a suceder poderá ser um regime de capitalismo de mercado, de gestão ou, novamente, um regime de capitalismo de estado de direita (por exemplo, corporativo ou oligárquico no estilo Putin) ou de esquerda (no estilo terceiro-mundista de Chávez ou no estilo Angolano).

O resultado será em parte determinado pelo facto dos proponentes das várias soluções de regime optarem pela via reformista (democrática) ou pela via revolucionária (golpe militar). Por isso, é importante avaliar as perspectivas de mudança que as duas vias oferecem. Não se trata de reeditar o debate do final do século XIX entre Rosa Luxemburgo e Bernstein sobre como construir o socialismo, mas simplesmente debater os prós e contras de cada uma das vias para mudar um regime.

A grande vantagem de uma revolução é que promete para amanhã a realização imediata de todas as utopias. A sua grande desvantagem é que se sabe como começa mas nunca se sabe como acaba; e a história tem demonstrado que as revoluções acabam geralmente mal.

Em contraste, a via reformista tem a grande desvantagem de parecer uma tarefa interminável, como a de Sísifo, mas tem a virtualidade de permitir uma progressão cumulativa. Também tem a vantagem de atingir o seu destino quando tem ou gera bons líderes.

Entre nós começam a ouvir-se vozes à esquerda (e.g. o apelo de Otelo para um novo 25 de Abril) e à direita com apelos a um novo Sidonismo de inspiração nacionalista que conteste a tutela da Troika e retome o proteccionismo nacionalista. Embora o actual regime tente acomodar as reivindicações corporativas dos militares, não é impossível que alguns possam ser tentados a fazer um golpe de estado com vista a uma suspensão da democracia (ainda que temporária) de forma a alterar a constituição e o regime político.

A nosso ver a via revolucionária, para além dos riscos habituais das revoluções (incluindo a guerra civil), traria uma quase certa continuação do predomínio do capitalismo de estado. Isto é, a mudança seria apenas ao nível do regime político. Logo não acredito que tal via possa resolver os bloqueios existentes na sociedade portuguesa.

Por isso, defendo que a mudança de regime político-económico seja feita pela via reformista. Contudo, como fazê-lo com os partidos que temos hoje em Portugal? A meu ver existem duas opções. A primeira através da eleição, com uma confortável maioria absoluta, de um líder partidário que desempenhe o papel de déspota iluminado. A segunda, através de um Presidente da República eleito por larga maioria na base de um compromisso público de coagir os partidos políticos para mudarem o regime.

A opção por um déspota iluminado está mais de acordo com a tradição messiânica dos portugueses. De facto, os grandes reformistas da nossa história, nomeadamente D. Afonso III, Marquês de Pombal ou Salazar foram todos déspotas iluminados. As grandes desvantagens desta solução advêm da dificuldade em eleger tais líderes num regime democrático, na sua tendência para resvalarem para regimes autoritários e na perenidade das suas reformas logo que abandonam o poder. O primeiro problema pode ser ultrapassado por líderes que escondam a sua agenda reformista até chegarem ao poder. Já o problema da perenidade das reformas não poderá ser resolvido se não houver uma conversão genuína dos portugueses a esses ideais. Ora, os déspotas atraem facilmente seguidores mas não deixam verdadeiros discípulos.

Por isso, a via mais segura para uma mudança de regime é infelizmente a mais difícil - através da eleição de um Presidente da República com poderes limitados. Mas, tal não é impossível se a sua eleição resultar de um processo de mobilização dos intelectuais e da sociedade em geral para os ideais do capitalismo de mercado bem como dos restantes pilares que de acordo com o nosso blog asseguram a felicidade humana.

Parafraseando o ditado - Roma e Pavia não se fizeram num dia – também digo que o processo reformista que advogo não se fará numa única eleição presidencial. No entanto, todas as grandes reformas são feitas de pequenos passos. Por isso, o meu desejo é que este pequeno ensaio seja um contributo para esse primeiro passo na mudança do desígnio nacional.