Questionário

Tuesday, 27 January 2015

More on Greece: Krugman’s utopia or folly?

Nobel Laureate Paul Krugman’s case for reducing Greece’s debt service so that she no longer needs to run a large budget surplus is the following: “Suppose that the multiplier is 1.3 — which is what IMF estimates seem to suggest — and that Greece can collect 40 percent of a rise in GDP in revenue (roughly matching its average revenue/GDP). Then an additional billion euros in spending should generate around 0.5 billion euros in revenue, reducing the primary surplus by only 0.5 billion euros”.

However, his back-of-the-envelope calculation is based on an unfounded optimism about the public spending multiplier. I know that he knows that the multiplier effects of spending (public or private) are reduced through import and saving leakages. But, what he (and other optimists) usually miss is that such leakages are extremely dependent on the confidence about the spending policies being implemented.

For instance, if Greek politicians are not credible the multiplier could suddenly reduce to 0.5 and the primary surplus would be reduced by 0.8 billion euros. Or, even worse, if the ruling party is seen as revolutionary, as is the case with Syriza, the leakages may even turn the multiplier into negative values (e.g. -0.5), in which case the primary surplus reduction would be 1.2 billion euros and the current surplus would quickly vanish and destroy any lenders’ willingness to refinance the current debt level ad aeternum.

Indeed, without their own currency, capital controls and the possibility of imposing trade barriers, the leakage through imports is inevitable. Likewise the fear of the radical Syriza policies will accelerate capital flight which is a form of “hoarding”. Moreover, an unexperienced left wing political coalition is usually the most fertile ground for corruption and mismanagement which again act as a form of “hoarding”. In a country already plagued by a culture of corruption, a change towards a “loony left” will only exacerbate the problem.

In conclusion, Krugman’s call to give more importance to debt flows than debt stocks is not a folly, but in Greece’s circumstances it is certainly utopia. So the European countries should only agree to more public spending if Syriza passes a test of political responsibility and can be tied up to a properly designed adjustment program (not the ones implemented in the past by the Troika).

Monday, 26 January 2015

The lesser evil for Greece and Europe

By electing the Syriza party, the Greeks in despair have turned what was an untenable situation into a nightmare scenario, perhaps hoping to force some kind of way out from the present situation.

What are in fact the Greek options? Using my academic hat I will put them bluntly and leave to others the task of dressing them in politically correct language. The options are basically three.


The first is that once in power, Tsipras and other radical leaders in the coalition will become realists and will not rock the boat. The second is that he will try to implement his political and economic agenda and will end up in mayhem and forced out of the Euro, or, in a worst case scenario, exit the EU and fall back into dictatorship. The third option is that he will declare a moratorium or some other form of debt default and will end up being bailed out again by the Troika.


There are several international experiences we may use as an analogy for each scenario.


The “get real” hypothesis has two versions: a) the FT hope that Tsipras becomes a Lula da Silva rather than a Hugo Chaves; and, b) Krugman’s (socialist) wishful thinking that the sudden abandonment of austerity will revive the Greek economy and the political mess will disappear. Both are very unlikely. The first, because the ideological base of Tsipras is fundamentally different from that of the Lula’s party in Brazil and the financial situation is much worse in Greece. The second ignores that the moderate socialist left has been almost wiped out of the political map and replaced by radicals without previous government experience.


The “mayhem and Euro exit” scenario is the most dangerous for Greece and Europe, if one judges from historical precedents such as the Cuban revolution or the rise of Nazism in Germany. One should not forget that it was economic anarchy, national humiliation, anti-Semitism and the fear of communism that led the Germans to vote Hitler into power. The fact that Syriza has chosen as coalition partner a nationalistic anti-Semite party and left-wing leaders in Southern Europe are increasingly endorsing anti-Semitism under the guise of pro-Palestinian support, creates an environment favorable to the Greek Golden Dawn neo-Nazi party which came third in the election.

The “new debt restructuring and new bailout” is the lesser of the three evils. In practice it means that the Troika needs to develop a new financing mechanism to lend Greece the money they need to repay their debt. This way of preventing a formal write-off of loans from international financial institutions, which enjoy preferred creditor status, has been used by the World Bank through AID lending and by the IMF through the HIPC/MDRI and PRGT Initiatives. Two countries with recently overdue repayments to the IMF were Zimbabwe and Argentina. Both with left-leaning, populist leaders who decided to challenge the international lenders. The results have been years of economic decline and rampant corruption. So, Greece, a country already rigged by alarming levels of corruption, might follow their path. However, for the good of Greece, one should hope that Tsipras will be more like Cristina Kirchner than Robert Mugabe.


To close this rather bleak outlook, I must address the question on whether there are no solutions for the Greek problem. Yes, there are. And I have written about some of them in other posts (e.g. here and here) in 2011, at the start of the Southern European crisis.


However, I do not foresee a possibility that someone will endorse them before the Greek electorates gets disillusioned with the new utopia, votes for more reliable politicians and the EU leaders reconsider their austerity bias. I hope that time will prove me wrong.

Monday, 12 January 2015

O perigo da ascensão da extrema-direita na Europa

A controvérsia em torno da participação ou não de Marine Le Pen da Frente Nacional na manifestação contra o terrorismo em Paris, resulta de um equívoco muito comum entre democratas. Porém, a questão de saber se em democracia se pode tolerar partidos xenófobos e tendencialmente totalitários só tem uma resposta possível – sim! De outro modo não será uma verdadeira democracia.

O único requisito que se lhe deve exigir é que exerçam a sua atividade sem violência e respeitem a lei e as regras da democracia. Nesse aspeto não existe qualquer diferença entre extrema-direita e extrema-esquerda, independentemente do seu passado.

Pessoalmente, não tenho a menor duvida que se a Frente Nacional em França ou o Partido Comunista em Portugal alguma vez forem eleitos para governar tratarão rapidamente de instaurar uma ditadura para se perpetuarem no poder. Por essa e outras razões procuro sempre relembrar o perigo dessas ideologias totalitárias mesmo quando elas juram ser democráticas.

No entanto, se se quisesse proibir o Partido Comunista em Portugal eu estaria entre os primeiros a protestar na rua pelo seu direito à liberdade. Na verdade a sua liberdade não é menos importante que a minha.

Mais, quando em Portugal o PCP utiliza a sua influência nos sindicatos para promover greves frequentes nos transportes públicos com prejuízo para todos nós, eu não me insurjo contra o PCP, mas sim contra a legislação que permite a esses sindicatos recorrer arbitrariamente à greve.

De igual modo, não culpo os radicais de esquerda e de direita pela sua ascensão na Europa. Culpo sim os partidos democráticos à esquerda e à direita por terem alienado o seu eleitorado. Isto é, o verdadeiro perigo para a Europa é o declínio dos partidos reformistas e moderados.

Saturday, 10 January 2015

Globalização, assimilação e multiculturalismo

Os recentes atos de terrorismo em Paris renovaram a necessidade de um debate esclarecido sobre os problemas do fundamentalismo, seja Islâmico ou outro. O fenómeno deve ser analisado sob vários ângulos, mas irei apenas abordá-lo na perspetiva do debate entre assimilação e multiculturalismo.

Paradoxalmente, o processo de globalização em curso ressuscita novas formas de feudalismo. Temos pois de recorrer à história para analisar o fenómeno. A história da Península Ibérica durante a idade média é das mais relevantes para percebermos a diferença entre os sistemas de assimilação (melting pot) e multiculturalismo.

Durante os séculos de guerra entre cristãos e muçulmanos que se seguiram ao domínio Visigótico, muitos Judeus, Cristãos e Mouros sobreviveram às frequentes guerras predatórias e respetivas mudanças de vassalagem, refugiando-se em pequenas comunidades autónomas mediante o pagamento de um tributo aos reis do momento. Em Lisboa, ainda temos bairros com o nome desses guetos, por exemplo a Mouraria para os muçulmanos ou a Alfama para os Judeus.

Em troca desses tributos os moradores eram autorizados a ter a sua própria religião, educação, justiça e até polícia. Porém, a vida nessas comunidades não era fácil. Quando enriqueciam ficavam sujeitas à ganância dos seus senhores e à inveja dos vizinhos. Quando eram miseráveis ou adoeciam eram desprezados pelos senhores e acusados de propagar a peste pelos vizinhos.

Por isso essas populações viviam alternadamente períodos de tolerância e perseguição feroz, por vezes dramática, como no caso do massacre dos Judeus em Lisboa no ano de 1506. Como seria de esperar, alguns dos seus líderes religiosos mais fanáticos sonhavam com retaliação e pregavam a criação de um Califado ou Reino que lhes permitisse inverter a situação. Os que pregavam a tolerância eram menos ouvidos e frequentemente desmentidos pelas perseguições recorrentes .

A proliferação nas grandes cidades de zonas suburbanas habitadas maioritariamente por minorias étnicas ou religiosas, onde os restantes habitantes e a própria polícia têm receio de entrar, são a versão moderna dos guetos medievais. Para os defensores do multiculturalismo, essas comunidades devem ser protegidas e respeitadas no seu desejo de autoexclusão.

Porém, não é difícil imaginar que tal processo gerará os mesmos conflitos que ocorriam na idade média. Desde logo, porque o isolamento dessas comunidades leva inexoravelmente ao seu empobrecimento e desemprego, tanto mais que hoje (e ainda bem) não temos as guerras e doenças que na idade média limitavam o crescimento dessas populações. Mais, as tentativas de remediar o problema através do estado social criam problemas adicionais,são financeiramente insustentáveis a longo prazo e geram reações xenófobas nos restantes habitantes. Isto é, o ritmo avassalador dos custos sociais tornar-se-á no equivalente à peste da idade média.

No entanto, a história da miscigenação no Brasil e da emigração nos Estados Unidos mostram-nos como a assimilação pode ser a melhor solução para preservar a identidade das minorias. Sendo nações de emigrantes oriundos de muitos países, os seus habitantes revêm-se simultaneamente no seu país de acolhimento e de origem. Por exemplo, nos Estados Unidos os seus habitantes sentem-se simultaneamente Americanos e Afro-Americanos ou Luso-Americanos, sem terem necessidade de renegar a sua origem e cultura. Qualquer tentativa de os segregar numa base residencial ou linguística justificada por um pseudo multiculturalismo apenas contribuirá para a sua “guetização” e subsequente desagregação da sociedade.

Um processo de assimilação não tem necessidade de excluir comunidades de base étnica, linguística, religiosa ou cultural, tal como a existência de associações e governos locais ou regionais não destrói o estado central. O essencial é que tais comunidades sejam voluntárias, abertas, democráticas, tenham poderes limitados e respeitem as regras de um estado de direito. Por isso, a existirem, tais comunidades deve ser reguladas de forma transparente, constitucionalmente aceite e assumida.

Em suma, num processo de globalização a ideologia multiculturalista é perigosa e perfeitamente dispensável quando os modelos de assimilação podem facilmente coabitar com as desejáveis diferenças e respeito pelas tradições e origens de cada um de nós. Só assim se evita que fanáticos e políticos sem escrúpulos explorem as nossas diferenças culturais, étnicas ou religiosas para prosseguir as suas agendas totalitárias e destruir a nossa liberdade.