Aparentemente os Chineses compraram a EDP oferecendo o melhor preço. O vendedor (Estado) - fez o que é normal. Vendeu a quem fez a melhor oferta, invocando o princípio geral de que o dinheiro não tem cor. Tudo bem? Não!
Tudo estaria bem se o princípio invocado não tivesse excepções morais e práticas. Sob o ponto de vista moral não é legitimo beneficiar do chamado dinheiro sujo. Sob o ponto de vista prático não podemos ignorar as consequências futuras dos ganhos imediatos.
Admitamos que fazer negócios com regimes ditatoriais não é sempre imoral e concentremo-nos nos aspectos práticos. Estes são fáceis de entender através de uma analogia simples que nos permite demonstrar que a venda de bens não é toda igual.
Por exemplo, se eu quiser vender um automóvel é-me indiferente que o comprador seja Cigano, Siciliano ou Chinês. No entanto, e sem querer ser xenófobo, se quiser vender um andar no meu prédio já não posso ignorar a origem do comprador. Porquê? Porque o valor futuro do meu andar vai ser influenciado pela vizinhança do prédio.
Ora, vender precipitadamente o principal oligopolista no sector eléctrico Português a um regime ditatorial estrangeiro tem os mesmos custos de reputação que vender um andar a um vizinho indesejável.
De onde podem advir tais custos? Desde logo do não querer resolver o problema do endividamento excessivo da EDP através do mecanismo normal da venda de activos e do refinanciamento no mercado. Mas também, e potencialmente mais grave, do previsível aumento das rendas monopolistas cobradas pela empresa.
Quem irá pagar o prometido aumento do endividamento da empresa e a que custo? Serão naturalmente os consumidores de energia eléctrica, isto é, todos nós.
Ora, acontece que para subsidiar a ‘máfia’ das eólicas e a ineficácia da indústria nós já temos custos energéticos muito superiores aos dos nossos concorrentes que comprometem gravemente a nossa competitividade internacional. Por isso, é fácil estimar que o agravamento dessa falta de competitividade terá custos muito superiores ao diferencial de preço oferecido pelos Chineses.
Na verdade, vender participações do estado não é sinónimo de privatizar. Como a própria palavra diz privatizar é vender a privados. Por isso temos de nos interrogar, porque é que só houve um concorrente privado que se recusou a subir a sua oferta? Porque a operação de venda foi precipitada e mal conduzida.
Substituir um accionista estatal de um país democrático por um accionista estatal estrangeiro, ainda por cima de um país não aderente à Convenção anti-corrupção da OCDE, não augura nada de bom para um país como o nosso empobrecido e minado pela corrupção. Mal por mal é preferível um regime de capitalismo de estado democrático do que um de capitalismo de estado comunista e ditatorial.
Por isso, o chamado negócio do ano deveria ser chamado o pior desastre do ano.
Saturday, 31 December 2011
EDP: O dinheiro não tem cor, mas…
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Thursday, 22 December 2011
Christmas, Family and Happiness
It is time to wish all my readers a Merry Christmas and Happy New Year!
If you are hurrying to buy the last present do not worry, the family reunion is more important than the presents. So, spare a moment to think about those who are alone or have no family or friends to visit over Christmas.
You may have heard this cliché many times. However, we must wonder why Christmas is so significant in bringing families together and why families are so important for human happiness. Here are some facts: A recent study on doing things together found evidence that: “The youngsters with mental health complaints ate less frequently with both parents than the youngsters in the comparison group. They also shared less activities and practiced less family rituals—union and life cycle—than the families of the youngsters in the comparison group, and showed a lower level of satisfaction in perceived family function.”
If you like lots of statistical analysis you can find here plenty o statistics related to life satisfaction and happiness. Community celebrations and extended families often correlate with happiness, but the facts are usually difficult to interpret. Therefore, if you are curious about happiness economics Wikipedia provides a simple introduction here.
Anyway, even if you think that ritual celebrations create a travel nightmare, limit your personal freedom and you cannot stand some boring relatives, try to be tolerant. You will find that tolerance is an important virtue to achieve happiness.
So, enjoy your holiday season!
If you are hurrying to buy the last present do not worry, the family reunion is more important than the presents. So, spare a moment to think about those who are alone or have no family or friends to visit over Christmas.
You may have heard this cliché many times. However, we must wonder why Christmas is so significant in bringing families together and why families are so important for human happiness. Here are some facts: A recent study on doing things together found evidence that: “The youngsters with mental health complaints ate less frequently with both parents than the youngsters in the comparison group. They also shared less activities and practiced less family rituals—union and life cycle—than the families of the youngsters in the comparison group, and showed a lower level of satisfaction in perceived family function.”
If you like lots of statistical analysis you can find here plenty o statistics related to life satisfaction and happiness. Community celebrations and extended families often correlate with happiness, but the facts are usually difficult to interpret. Therefore, if you are curious about happiness economics Wikipedia provides a simple introduction here.
Anyway, even if you think that ritual celebrations create a travel nightmare, limit your personal freedom and you cannot stand some boring relatives, try to be tolerant. You will find that tolerance is an important virtue to achieve happiness.
So, enjoy your holiday season!
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Sunday, 18 December 2011
A Qualidade dos Políticos de Hoje e do Tempo de Salazar
As declarações na semana passada de Pedro Nuno Santos, ex-dirigente da Jota Socialista e porta-voz do Partido Socialista para a Economia, sobre o não pagamento da divida soberana não foi apenas mais uma demonstração da baixa qualidade da classe política Portuguesa.
As declarações confirmam também a inquestionável inferioridade média da classe política actual em relação à classe política do anterior regime, e são antes de mais uma ilustração clara das razões dessa inferioridade.
Os dois regimes de capitalismo de estado que vigoram no país há mais de 80 anos – o corporativismo de direita até 1974 e o socialismo de esquerda desde então – assentam igualmente na promoção do nepotismo e na criação de uma classe política dependente das “rendas e mordomias” do exercício da governação. Ambos os regimes procuraram arregimentar os jovens em organizações partidárias de juventude – Salazar na Mocidade Portuguesa e os partidos actuais nas “Jotas” – para funcionarem como fornecedoras de quadros políticos.
Se os dois seguiram a mesma estratégia de promover a partidocracia em detrimento da meritocracia, então porque é que os políticos actuais são piores? Fundamentalmente por duas razões.
Primeiro, porque a Mocidade Portuguesa sendo uma organização com carácter militarista acabou por fornecer sobretudo quadros para as forças militares e de segurança deixando em aberto as restantes áreas da política. Pelo contrário, o carácter civil das actuais “Jotas” permitiu alargar a sua intervenção à totalidade das áreas políticas.
A segunda razão tem a ver com a personalidade dos fundadores dos dois regimes. Enquanto Salazar era um académico de mérito inquestionável, os ‘’associativos” que fundaram o actual regime eram alunos fracos ou cábulas que concluíram os respectivos cursos com notas baixas ou através de diversos expedientes.
Consequentemente, em contraste com os políticos actuais, Salazar não desconfiava ou temia os mais inteligentes e frequentemente recrutava os seus colaboradores entre os seus pares (em termos de inteligência e mérito académico).
Pelo contrário as “Jotas” actuais recrutam os seus membros nas associações académicas em função da sua capacidade de ganhar eleições que constituem a sua actividade exclusiva e razão de ser. Naturalmente, tais associações acabam por atrair sobretudo os estudantes cábulas e peritos em expedientes para tirar o curso com o mínimo de esforço.
Em suma, enquanto não houver uma “revolução de nerds” ou qualquer outra revolução inspirada no mérito e que acabe com o actual regime de mediocridade, a melhoria da classe política Portuguesa só ocorrerá se os líderes partidários limitarem o recrutamento de quadros políticos oriundos das “Jotas”; ou, se os estudantes repudiarem a “eleitoralite aguda” das associações de estudantes que apenas serve para a formação de “associativos” politiqueiros.
As declarações confirmam também a inquestionável inferioridade média da classe política actual em relação à classe política do anterior regime, e são antes de mais uma ilustração clara das razões dessa inferioridade.
Os dois regimes de capitalismo de estado que vigoram no país há mais de 80 anos – o corporativismo de direita até 1974 e o socialismo de esquerda desde então – assentam igualmente na promoção do nepotismo e na criação de uma classe política dependente das “rendas e mordomias” do exercício da governação. Ambos os regimes procuraram arregimentar os jovens em organizações partidárias de juventude – Salazar na Mocidade Portuguesa e os partidos actuais nas “Jotas” – para funcionarem como fornecedoras de quadros políticos.
Se os dois seguiram a mesma estratégia de promover a partidocracia em detrimento da meritocracia, então porque é que os políticos actuais são piores? Fundamentalmente por duas razões.
Primeiro, porque a Mocidade Portuguesa sendo uma organização com carácter militarista acabou por fornecer sobretudo quadros para as forças militares e de segurança deixando em aberto as restantes áreas da política. Pelo contrário, o carácter civil das actuais “Jotas” permitiu alargar a sua intervenção à totalidade das áreas políticas.
A segunda razão tem a ver com a personalidade dos fundadores dos dois regimes. Enquanto Salazar era um académico de mérito inquestionável, os ‘’associativos” que fundaram o actual regime eram alunos fracos ou cábulas que concluíram os respectivos cursos com notas baixas ou através de diversos expedientes.
Consequentemente, em contraste com os políticos actuais, Salazar não desconfiava ou temia os mais inteligentes e frequentemente recrutava os seus colaboradores entre os seus pares (em termos de inteligência e mérito académico).
Pelo contrário as “Jotas” actuais recrutam os seus membros nas associações académicas em função da sua capacidade de ganhar eleições que constituem a sua actividade exclusiva e razão de ser. Naturalmente, tais associações acabam por atrair sobretudo os estudantes cábulas e peritos em expedientes para tirar o curso com o mínimo de esforço.
Em suma, enquanto não houver uma “revolução de nerds” ou qualquer outra revolução inspirada no mérito e que acabe com o actual regime de mediocridade, a melhoria da classe política Portuguesa só ocorrerá se os líderes partidários limitarem o recrutamento de quadros políticos oriundos das “Jotas”; ou, se os estudantes repudiarem a “eleitoralite aguda” das associações de estudantes que apenas serve para a formação de “associativos” politiqueiros.
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Monday, 12 December 2011
The German Surplus and the Euro Zone Demise
Here are some figures someone should have explained to Mrs. Merkel, before she coerced European leaders (with the exception of Mr. Cameron, the UK prime minister) into fiscal fundamentalism.
First, a look at German savings:
With a slow growing economy, Germans save every year €130 billion, or 6% of their income, that they have to lend abroad. With the exception of the government, all sectors of the economy are net savers. Even the government managed to run a balanced budget during the financial crisis of 2008.
The problem with this Teutonic frugality is that it puts a burden on its trading partners, in particular those in the Euro Zone. Germany is currently running a current account surplus of about €140 billion per year, of which more than half (€73 billion) with her Euro Zone partners (of which Italy, Spain, Greece and Portugal account for half):
Simple national accounting arithmetic tells us that the reverse picture of a surplus is a deficit. Therefore, a reduction in the external deficits in the southern European countries will have to be matched by a partial reduction of the German surplus.
Should Germany succeed in the policy of bringing its Government deficit to zero as well those of the other Euro countries, this would have to be matched either by an increased external surplus (with the US, UK and other countries) or by a reduction in German economic growth and savings. Lower growth with the same rate of saving by Germans will depress the exports of other Euro area deficit countries to Germany and will depress further their growth in a recessionary spiral.
In summary, the misunderstanding of economic interdependence between Euro Area member countries and Mrs. Merkel housewife economics risk ruining the rest of Europe.
First, a look at German savings:
With a slow growing economy, Germans save every year €130 billion, or 6% of their income, that they have to lend abroad. With the exception of the government, all sectors of the economy are net savers. Even the government managed to run a balanced budget during the financial crisis of 2008.
The problem with this Teutonic frugality is that it puts a burden on its trading partners, in particular those in the Euro Zone. Germany is currently running a current account surplus of about €140 billion per year, of which more than half (€73 billion) with her Euro Zone partners (of which Italy, Spain, Greece and Portugal account for half):
Simple national accounting arithmetic tells us that the reverse picture of a surplus is a deficit. Therefore, a reduction in the external deficits in the southern European countries will have to be matched by a partial reduction of the German surplus.
Should Germany succeed in the policy of bringing its Government deficit to zero as well those of the other Euro countries, this would have to be matched either by an increased external surplus (with the US, UK and other countries) or by a reduction in German economic growth and savings. Lower growth with the same rate of saving by Germans will depress the exports of other Euro area deficit countries to Germany and will depress further their growth in a recessionary spiral.
In summary, the misunderstanding of economic interdependence between Euro Area member countries and Mrs. Merkel housewife economics risk ruining the rest of Europe.
Friday, 9 December 2011
Is the ECB Intent on Replacing Euro Hara-Kiri by Euthanasia?
Another useless EU Summit - thank you Mr. Cameron for killing the new “Merkozy” version of an absurd fiscal union for the entire EU. This time, the absurdity of setting a budget limit of 0.5% of GDP (when it has been unable to comply with the existing limit of 3%), was compounded by requiring its inscription as a rule in national legal systems at constitutional or equivalent level (see here why this is a mistake).
Let us now hope that a referendum in Ireland or any other country will kill the alternative proposal for a fiscal union among Euro Zone members through a new "fiscal compact". As we said here, a fiscal union between Germany and France may make sense but it would be a disaster for the entire Euro Zone.
The potential collapse of the Euro Zone will not be due to a fiscal problem in the Euro Area; which does not exist, despite the fact that three smaller members have excessive debt and Germany has an excessive current account surplus. The problem resides in the ECB’s refusal to act to stop the speculation against the Euro by invoking that its charter does not allow for the monetization of fiscal deficits.
Mr. Draghi is either naïve or wants us to believe in fairy tales. During his last press conference, he said that funding the IMF to finance exclusively the Euro Zone governments would be against the ECB charter. However, the ECB practice of accepting modern day versions of accommodation bills, in the form of bank drafts and bonds issued and subscribed by the same bank with a government guarantee and used to purchase the debt of the said government, is a more dangerous form of debt monetization since it lacks any kind of conditionality. Moreover, it puts those governments in the position of sitting ducks for speculative attacks.
As we said before bank-to-bank loans with strong conditionality are preferable. Obviously, we do not advocate that the ECB should negotiate or monitor such conditionality. Specialized institutions such as the IMF or the EFSF/ESM should do that.
Unfortunately, as we said repeatedly and the experience of Greece, Ireland and Portugal shows the IMF adjustment policies for monetary unions are seriously flawed.
Yet the ECB did not demand from the European Council that the ESM should take its place. Instead, the Council decided that all EU member states would lend to the IMF an extra 200 million Euros in the hope that non-EU countries might do the same.
In summary, by accepting the self-inflicted fiscal Darwinism of Germany that will lead to expelling peripheral countries from the Euro Zone, despite a half-baked mix of ECB and IMF support, will not restore confidence in the Euro. All it does is to replace the previous ECB hara-kiri intent with a slow euthanasia carried out by an IMF firing squad.
Let us now hope that a referendum in Ireland or any other country will kill the alternative proposal for a fiscal union among Euro Zone members through a new "fiscal compact". As we said here, a fiscal union between Germany and France may make sense but it would be a disaster for the entire Euro Zone.
The potential collapse of the Euro Zone will not be due to a fiscal problem in the Euro Area; which does not exist, despite the fact that three smaller members have excessive debt and Germany has an excessive current account surplus. The problem resides in the ECB’s refusal to act to stop the speculation against the Euro by invoking that its charter does not allow for the monetization of fiscal deficits.
Mr. Draghi is either naïve or wants us to believe in fairy tales. During his last press conference, he said that funding the IMF to finance exclusively the Euro Zone governments would be against the ECB charter. However, the ECB practice of accepting modern day versions of accommodation bills, in the form of bank drafts and bonds issued and subscribed by the same bank with a government guarantee and used to purchase the debt of the said government, is a more dangerous form of debt monetization since it lacks any kind of conditionality. Moreover, it puts those governments in the position of sitting ducks for speculative attacks.
As we said before bank-to-bank loans with strong conditionality are preferable. Obviously, we do not advocate that the ECB should negotiate or monitor such conditionality. Specialized institutions such as the IMF or the EFSF/ESM should do that.
Unfortunately, as we said repeatedly and the experience of Greece, Ireland and Portugal shows the IMF adjustment policies for monetary unions are seriously flawed.
Yet the ECB did not demand from the European Council that the ESM should take its place. Instead, the Council decided that all EU member states would lend to the IMF an extra 200 million Euros in the hope that non-EU countries might do the same.
In summary, by accepting the self-inflicted fiscal Darwinism of Germany that will lead to expelling peripheral countries from the Euro Zone, despite a half-baked mix of ECB and IMF support, will not restore confidence in the Euro. All it does is to replace the previous ECB hara-kiri intent with a slow euthanasia carried out by an IMF firing squad.
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Monday, 5 December 2011
Passos Coelho e a Contabilidade Criativa
Este fim-de-semana o Primeiro-ministro deixou o país perplexo com a notícia de que tinha 2 mil milhões de Euros para injectar na economia. Onde é que ele foi buscar o dinheiro? Aparentemente a receita extraordinária com os fundos de pensões dos bancos teria criado essa folga orçamental.
Infelizmente as ditas receitas extraordinárias não são verdadeiras receitas, mesmo que o Eurostat diga que sim.
Já o famigerado Sócrates tinha tido tão brilhante ideia ao contabilizar os adiantamentos das PPPs como receita, e o resultado está à vista.
Para perceber porque é que a compra de um fundo de pensões não pode ser considerado como uma receita imagine-se que uma seguradora pretende vender um fundo de pensões. Se o valor actual das obrigações futuras do fundo for 100 e o fundo detiver valores realizáveis no valor de 100 a seguradora poderia vender o fundo por um valor correspondente apenas ao goodwill estimado da carteira de clientes, por exemplo 10%. Porém, se os valores detidos pelo fundo fossem apenas 50% das obrigações a seguradora pagaria ao comprador 40. Isto é, o equivalente à recapitalização do fundo menos o valor do goodwill.
Repare-se agora na situação do comprador, por exemplo outra seguradora. Esta tem várias maneiras de fazer o investimento. Pode pagar 50 em dinheiro e pedir emprestados 60 para recapitalizar o fundo e pagar o goodwill ao vendedor. Neste caso, o seu activo passaria a valer 110 (fundo mais goodwill) enquanto o passivo aumentava para 60 e os capitais próprios continuariam a ser 50. Isto é, não haveria lugar ao reconhecimento de gastos ou receitas. Se optasse por receber os 40 da subcapitalização do fundo, o seu activo passaria a ser 150 (= 50 dinheiro + 40 pagos pelo vendedor + 10 goodwill + 50 valor do fundo) enquanto o passivo e capitais próprios passariam a ser 150 (= 100 das obrigações do fundo + 50 de capitais próprios). Mais uma vez não havia lugar ao reconhecimento de perdas ou receitas.
Em ambos os casos o comprador estaria a fazer um investimento, embora financiado de maneira diferente. Na segunda modalidade o investimento seria apenas mais alavancado e arriscado. Se o investimento seria lucrativo ou desastroso só se pode saber no futuro; dependendo da rentabilidade dos valores adquiridos e do montante das pensões a pagar anualmente. Por exemplo, se no primeiro ano o fundo tivesse de pagar 5% e ganhasse apenas 3% então teria de reconhecer um prejuízo de 2%.
No caso dos fundos de pensões dos bancários adquiridos pelo Estado Português optou-se pela segunda modalidade. Eis os valores disponíveis de acordo com a comunicação social: O valor dos fundos de pensões dos bancários está avaliado em 14 mil milhões de Euros. Este ano os vendedores (fundos dos bancários) transferiram para o comprador (Estado) 6 mil milhões de Euros de valores mobiliários. Entretanto o Estado passará a contribuir com 0.5 mil milhões de Euros anualmente para a Segurança Social para ela pagar as pensões dos bancários.
Será possível saber desde já se o Estado fez um bom ou mau negócio? Sem mais informação sobre as condições do negócio e a qualidade e valor dos activos comprados pelo Estado, não é possível saber.
Porém, é fácil concluir que um empréstimo forçado dos trabalhadores e pensionistas bancários em vez do financiamento da Troika será mais dispendioso; a não ser que o Estado não pense pagar a totalidade da divida contraída.
Em resumo, o uso de contabilidade criativa por parte do Governo para contabilizar um empréstimo como uma receita não é um bom prenuncio para quem diz querer resolver o problema da divida pública.
Infelizmente as ditas receitas extraordinárias não são verdadeiras receitas, mesmo que o Eurostat diga que sim.
Já o famigerado Sócrates tinha tido tão brilhante ideia ao contabilizar os adiantamentos das PPPs como receita, e o resultado está à vista.
Para perceber porque é que a compra de um fundo de pensões não pode ser considerado como uma receita imagine-se que uma seguradora pretende vender um fundo de pensões. Se o valor actual das obrigações futuras do fundo for 100 e o fundo detiver valores realizáveis no valor de 100 a seguradora poderia vender o fundo por um valor correspondente apenas ao goodwill estimado da carteira de clientes, por exemplo 10%. Porém, se os valores detidos pelo fundo fossem apenas 50% das obrigações a seguradora pagaria ao comprador 40. Isto é, o equivalente à recapitalização do fundo menos o valor do goodwill.
Repare-se agora na situação do comprador, por exemplo outra seguradora. Esta tem várias maneiras de fazer o investimento. Pode pagar 50 em dinheiro e pedir emprestados 60 para recapitalizar o fundo e pagar o goodwill ao vendedor. Neste caso, o seu activo passaria a valer 110 (fundo mais goodwill) enquanto o passivo aumentava para 60 e os capitais próprios continuariam a ser 50. Isto é, não haveria lugar ao reconhecimento de gastos ou receitas. Se optasse por receber os 40 da subcapitalização do fundo, o seu activo passaria a ser 150 (= 50 dinheiro + 40 pagos pelo vendedor + 10 goodwill + 50 valor do fundo) enquanto o passivo e capitais próprios passariam a ser 150 (= 100 das obrigações do fundo + 50 de capitais próprios). Mais uma vez não havia lugar ao reconhecimento de perdas ou receitas.
Em ambos os casos o comprador estaria a fazer um investimento, embora financiado de maneira diferente. Na segunda modalidade o investimento seria apenas mais alavancado e arriscado. Se o investimento seria lucrativo ou desastroso só se pode saber no futuro; dependendo da rentabilidade dos valores adquiridos e do montante das pensões a pagar anualmente. Por exemplo, se no primeiro ano o fundo tivesse de pagar 5% e ganhasse apenas 3% então teria de reconhecer um prejuízo de 2%.
No caso dos fundos de pensões dos bancários adquiridos pelo Estado Português optou-se pela segunda modalidade. Eis os valores disponíveis de acordo com a comunicação social: O valor dos fundos de pensões dos bancários está avaliado em 14 mil milhões de Euros. Este ano os vendedores (fundos dos bancários) transferiram para o comprador (Estado) 6 mil milhões de Euros de valores mobiliários. Entretanto o Estado passará a contribuir com 0.5 mil milhões de Euros anualmente para a Segurança Social para ela pagar as pensões dos bancários.
Será possível saber desde já se o Estado fez um bom ou mau negócio? Sem mais informação sobre as condições do negócio e a qualidade e valor dos activos comprados pelo Estado, não é possível saber.
Porém, é fácil concluir que um empréstimo forçado dos trabalhadores e pensionistas bancários em vez do financiamento da Troika será mais dispendioso; a não ser que o Estado não pense pagar a totalidade da divida contraída.
Em resumo, o uso de contabilidade criativa por parte do Governo para contabilizar um empréstimo como uma receita não é um bom prenuncio para quem diz querer resolver o problema da divida pública.
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Friday, 2 December 2011
Is the ECB-IMF Proposed Back-to-Back Loan Enough to Stop the Euro Suicide?
It seems that the ECB is considering moving towards the type of back-to-back loan solution that we advocated in a previous post to stop the speculative bet on the collapse of the Euro. Bloomberg has just announced that the ECB is in talks with the IMF to set up a special $270 billion lending facility that would bypass the legal constraint of acting as lender of last resort to Euro Zone governments.
Although the details are not yet known, this is a positive development. Its main advantage is that it leaves the onus of imposing the necessary conditionality terms to the IMF, a task outside the remit of the ECB. However, the IMF failure in the Greek adjustment program raises serious doubts on its ability to deal with the Euro zone crisis.
We would prefer a European solution, intermediated and co-financed by private banks backed by the reformed European Financial Stability Facility, once it gets competence in adjustment lending.
Still, to be credible the ECB needs to go further. First, it needs to make sure that the size of the facility is big enough to leave no doubt about its power (the $270 billion reported are a fraction of what is needed). Second, it needs to ensure that the IMF can speed up its decision-making process. Finally, and most importantly, needs to stop its programs of bond buying in the secondary market that are feeding the speculation. A substantial reduction in the bond supply issued by some sovereigns is indispensable to squeeze those shorting the Euro.
In conclusion, the ECB has finally taken the first step in the right direction. Let us hope that it is followed by additional measures and is not offset by the fiscal fundamentalism that the surplus countries are trying to impose in whole Euro zone.
Although the details are not yet known, this is a positive development. Its main advantage is that it leaves the onus of imposing the necessary conditionality terms to the IMF, a task outside the remit of the ECB. However, the IMF failure in the Greek adjustment program raises serious doubts on its ability to deal with the Euro zone crisis.
We would prefer a European solution, intermediated and co-financed by private banks backed by the reformed European Financial Stability Facility, once it gets competence in adjustment lending.
Still, to be credible the ECB needs to go further. First, it needs to make sure that the size of the facility is big enough to leave no doubt about its power (the $270 billion reported are a fraction of what is needed). Second, it needs to ensure that the IMF can speed up its decision-making process. Finally, and most importantly, needs to stop its programs of bond buying in the secondary market that are feeding the speculation. A substantial reduction in the bond supply issued by some sovereigns is indispensable to squeeze those shorting the Euro.
In conclusion, the ECB has finally taken the first step in the right direction. Let us hope that it is followed by additional measures and is not offset by the fiscal fundamentalism that the surplus countries are trying to impose in whole Euro zone.
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