Questionário

Friday, 31 May 2019

Por uma direita moderna: 5 – Pela democracia representativa, contra o populismo

Parafraseando Churchill, é importante lembrar que “A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. Isto é, uma verdadeira democracia tem de ser representativa para minorar os custos de eficiência e ao mesmo tempo evitar que seja aprisionada pelas elites no poder. Para tal não basta que se vote de tantos em tantos anos.

Desde logo, é preciso refutar as formas de deliberação universal ou referendária propugnadas pelos defensores da democracia popular. Estas formas de democracia, para além de ineficientes são facilmente capturadas por demagogos e degeneram inevitavelmente em ditadura como todas as experiências até hoje têm demonstrado.

Uma verdadeira democracia não pode existir sem separação do poder executivo e judicial e um adequado sistema de pesos e contrapesos definidos constitucionalmente. O critério definidor de uma democracia passa por assegurar que periodicamente os eleitores possam disputar o poder. Para tal exige-se liberdade de expressão e equilibrio nos meios ao dispor dos vários candidatos.

Hoje a maioria dos regimes ditatoriais e populistas fazem formalmente eleições, mas não são verdadeiras democracias. Por exemplo, Putin na Rússia faz eleições, mas os seus opositores são perseguidos, assassinados ou condenados por tribunais fantoches. Orban na Hungria também faz eleições, mas usa os meios do governo para inventar supostos inimigos externos e enriquecer os familiares e apaniguados.

Para assegurar a igualdade de condições de concorrência eleitoral dos partidos é indispensável que estes também funcionem de forma democrática, independente e transparente. Para tal é necessário regular a forma como são financiadas as campanhas eleitorais, impedindo a interferência de potências estrangeiras e de interesses comerciais ou financeiros. Por exemplo, é preciso denunciar e impedir que a Rússia ou outros países interfiram nas eleições através de campanhas nas redes sociais, ou que a Coreia do Norte financie o PCP.

Uma verdadeira democracia tem de respeitar os direitos das minorias, mas não deve ser capturada pelo ativismo dessas minorias sejam elas de carácter étnico ou identitário. Isto é, a representatividade não deve ser confundida com proporcionalidade. Por exemplo, um homem pode ser bem representado por uma mulher e vice-versa sem necessidade de instituir qualquer sistema de quotas. De igual modo, os cerca de meio milhão de analfabetos que ainda existem em Portugal não precisam de ser representados por analfabetos, mas sim pelos mais bem preparados para a governação.

Em democracia os eleitos devem estar imbuídos de espírito de serviço público e não de interesses profissionais ou materiais, aceitando por isso como natural a limitação do número de mandatos.

A democracia representativa deve ser um direito constitucional claro e não contraditório. Por exemplo, na atual Constituição Portuguesa ainda consta o caminho para o socialismo que, a concretizar-se, inviabilizava uma verdadeira democracia representativa.

Por isso, para promover uma democracia verdadeiramente representativa, justa e livre, uma direita moderna deve:


5.1 Defender que a verdadeira democracia tem de ser representativa.
5.2 Exigir que as regras da democracia sejam alargadas aos partidos.
5.3 Reformar o enquadramento jurídico dos partidos exigindo transparência, abertura a novos militantes e regras públicas sobre a escolha dos seus candidatos a eleições.
5.4 Repudiar a ideia de que tecnocratas e independentes são alternativas aos maus políticos.
5.5 Limitar o número de políticos profissionais.
5.6 Combater as tendências para o nepotismo na política.
5.7 Valorizar a atividade política enquanto serviço público.
5.8 Repudiar o engodo da democracia direta, e opor-se a referendos deliberativos por maioria simples.
5.9 Respeitar o direito das minorias, mas não permitir que o ativismo das minorias se sobreponha à maioria.
5.10 Eliminar o socialismo na Constituição da República Portuguesa, e adotar os princípios do liberalismo constitucional.

Tuesday, 28 May 2019

Are share buybacks the rope that will hang the last capitalist?

Fortunately, the saying: “the last capitalist we hang shall be the one who sold us the rope”, attributed to Karl Marx and Vladimir Lenin, never materialized and communism is now discredited.

However, the capitalist system is exposed to built-in mechanisms that may lead to its demise. One serious candidate to ruin capitalism is the practice of companies repurchasing their own shares.

In 1980 the amount spent buying back shares in the USA reached 80 billion, but in 2018 the companies listed in the S&P500 index alone spent 806 billion in buybacks (and paid another 462 billion in dividends). Indeed, in 1999 buybacks used up to 75% of operating earnings and in 2008 had exceeded operating income by 25%. Although after the financial crisis that number was brought back to 60%, in 2016 buybacks reached 110% again and in 2018 still remain close to 100% of earnings.

Moreover, some well-known corporations (e.g. MacDonald’s and Starbucks) have been so aggressive buying back their stock that they now have negative equity. In the past such companies would be considered insolvent and in serious risk of bankruptcy, but today markets seem to disregard such risk and often value them handsomely.

How did we come to this situation? Basically, through the persistent attack on one key foundation of capitalism - the profit motive. In the past, Marxists, and anti-capitalists in general, were the main critics of profits as a form of exploitation or advantage to capitalists. However, in the 1960s some finance theorists provided a new weapon against profits by proclaiming that firms should aim at maximizing shareholder value rather than profits. This ambiguous metric opened the door to unscrupulous managers to try to manipulate stock prices through share buybacks to cover up their poor performance or to fill their pockets through stock options.

Regulators validated the practice by focusing exclusively on the risk of price manipulation, limiting repurchases to a maximum of 10% of the shares outstanding annually and some rules on how repurchases could be made in the open market. So, buybacks continued to grow for several reasons, including unchecked CEO greed and favourable taxation.

Most investors, seduced by the short-term view that stock prices would rise as the number of shares available for trading were reduced, also embraced the practice enthusiastically.

Among the few doubters, was Warren Buffett who alerted for the danger of adverse selection (buying high and selling low) and the risk of rewarding handsomely mediocre managers, notably on his famous parody of Mr. Fred Futile, CEO of Stagnant, Inc. I shall use his story to show that the danger of buybacks goes beyond rewarding mediocre management and endangers the future of capitalism.

In Buffett’s story, Fred Futile receives as compensation a ten year, fixed-price option, on 1% of the company. Quoting: “Under Fred’s leadership, Stagnant lives up to its name, and in each of the ten years earns $ 1 billion on $ 10 billion of net worth, which initially comes to $ 10 per share on the 100 million shares then outstanding. If the stock constantly sells at ten times earnings per share, it will have appreciated 158% by the end of the option period. That’s because repurchases would reduce the number of shares to 38.7 million by that time, and earnings per share would thereby increase to $ 25.80. Simply by withholding earnings from owners, Fred gets very rich, making a cool $ 158 million, despite the business itself improving not at all”.

Note that in this story, Fred Futile keeps to the regulatory limit of 10% and does not use debt to repurchase the stock. Thus, long term investors, like Mr Buffett, who declined to sell their shares would achieve a compound annual return of 11.11%. This is well below the 20% achieved by Mr. Buffett but is satisfactory to less skilled investors.

Now, let me introduce a variant to the story by assuming that Mr. Buffet owns 1% of Stagnant Inc and does not fear becoming its single shareholder, the regulators drop the 10% rule and that the 10-year borrowing costs of Stagnant Inc are 5%.

What would be now the best options for Fred Futile and Mr. Buffett?

First, Fred Futile should consider how to maximize his return. This could rise to a staggering 2.2 billion if he were to increase the annual repurchases to 40% of the outstanding shares. With this rate of repurchases Stagnant Inc would end up with a single capitalist, Mr Buffett, with 1 million shares, at the end of Fred Futile term as CEO. Now, Fred Futile had three options, to receive cash and leave, to receive 1 million newly issued shares or to receive 1 million shares bought from Mr. Buffett and own the company.

Having realized that Stagnant Inc had lived up to its name, Fred Futile would certainly prefer to cash-in, but the final decision belongs to Mr. Buffett. On the contrary, Buffett’s safest option would be to sell his holding at 10 times earnings to the company (with a compound annual return of 41.8%), because Stagnant Inc would be the only sure buyer of last resort at that price. I will ignore the other two options, because they are riskier for Mr. Buffett.

However, by selling the stock back to the company, Buffett would leave the company with negative equity of 7.5 billion. And, even if Fred Futile was naïve enough to believe that he could find a buyer for his company at 10 times earnings, the value of his stock would then be only 1170 million (i.e. 47% of the cash amount) because of the substantial decrease in earnings to 231 million. So, for Fred to secure a value equivalent to the cash-in amount, the company could only offer to buy Mr Buffett’s stock at a 90% discount (i.e. at 0.9 times earnings). That is, the last capitalist would be “robbed” of his company in exchange for a paltry return of 9.8%.

Still worse, it is questionable whether creditors would allow the company to build such a large negative equity without forcing a liquidation or restructuring. Therefore, the prospects for the last capitalist might be even worse.

Now, since Mr. Buffett is a clever investor one must admit that he would never allow management to “expropriate” the capitalists in just 10 years, or even the 43.7 years needed under the current 10% repurchase limit, but is willing to accept a 5% repurchase program as currently adopted by some of his investee companies (e.g. Apple). At this repurchase rate it would take 89.8 years to eradicate the last capitalist. Is this too far away to be of concern or for capitalists to become aware of the danger? Not really.

To understand why, let us admit that the astute Mr. Buffett decides to sell its holding in Stagnant Inc to Joe Blind, MD of the Workers Retirement Fund. True to his name, Joe lives and retires careless enjoying the bonus received on the rising, but unrealized, value of the fund holdings of Stagnant Inc. The same with Fred Futile, and both leave their jobs to their children who have no reason to doubt the wisdom of their ancestors and continue their policies.

Unfortunately, within two or three generations the Workers Retirement Fund becomes the last capitalist in Stagnant Inc and Joe Blind Junior will have to face the same dilemma as Mr. Buffett in the example above.

However, the consequences are much worse. While Mr Buffett is rich enough to live with a paltry return, the retirees that are the ultimate capitalists of the Workers Retirement Fund would have to survive on that miserable return. That is, the death of the capitalists and the profit motive will condemn workers to misery.

All in all, combining buybacks with stock options is a legalized form of deferred robbery of shareholders by management. And, neither investors’ myopia nor the merits attributed to buybacks justify endangering capitalism. So, its widespread practice and growth may indeed become “the rope that will hang the last capitalist”.

Saturday, 25 May 2019

Por uma direita moderna: 4 - Pela igualdade de oportunidades, num Estado de Direito

Uma das grandes virtudes do capitalismo relativamente ao feudalismo foi a abolição da hereditariedade na progressão social. Num regime de capitalismo de mercado o destino das pessoas já não é determinado pelo berço, mas pelas suas capacidades. As desigualdades à nascença já não são impostas pela sociedade. São apenas impostas pela natureza e pelo meio, mas estas podem ser atenuadas através da educação. Isto é, o capitalismo libertou-nos da servidão feudal e é uma meritocracia por excelência.

No entanto, as meritocracias podem reproduzir outras formas de sujeição se degenerarem em elites empresariais ou partidárias fechadas. Tal só pode ser evitado garantindo igualdade de oportunidades e promovendo a mobilidade social.

No entanto, a igualdade de oportunidades não pode ser confundida com igualitarismo. O igualitarismo, limita a liberdade de iniciativa e, em última instância, degenera em mediocridade.

Precisamos por isso de ponderação, em especial nas circunstâncias onde se justifiquem discriminações positivas. Por exemplo, embora a principal fonte de mobilidade social seja a educação e seja legitimo que todos aspirem a frequentar o ensino superior, tal não pode traduzir-se numa diminuição do nível de exigência que desincentive os bons alunos.

De igual modo, embora o acesso à justiça e saúde tenha de ser garantido pelo Estado, tal não deve limitar o direito à escolha.

Os cidadãos só considerarão que vivem numa sociedade justa se virem que o Estado promove a igualdade de condições de concorrência, sem menosprezar os que ficam para trás nem travar os que podem avançar mais depressa. Por isso, uma direita moderna deve ser:

4.1 Pela meritocracia, contra o elitismo.
4.2 Pela igualdade de oportunidades, contra o igualitarismo.
4.3 Contra as remunerações milionárias dos gestores, em detrimento dos acionistas.
4.4 Pela garantia do acesso à justiça em tempo útil e com custos controlados.
4.5 Pelo assegurar do direito à escolha no acesso à saúde.
4.6 Pelo acesso universal ao ensino básico e secundário.
4.7 Pela prestação de apoio e ensino especializado aos deficientes.
4.8 Pelo acabar dos direitos e privilégios legislativos das entidades públicas em relação aos cidadãos
4.9 Contra os abusos das autoridades tributárias em matéria de execuções fiscais sem recurso aos tribunais.
4.10 Pelo respeito do princípio da igualdade de todos perante a lei e pelas garantias processuais indispensáveis num estado de direito.

Friday, 17 May 2019

Por uma direita moderna: 3 – Por um regime fiscal simples, transparente e justo

A maioria das despesas públicas deve ser financiada por impostos, por razões de eficiência e equidade. No entanto, o Estado não deve abusar do poder que lhe é conferido para gerar receitas de forma coerciva.

Desde logo, em períodos normais, a cobrança de receitas deve atender à capacidade para pagar dos contribuintes. Esta pode ser medida através da carga fiscal e do esforço fiscal. Desde o ano 2000, a carga fiscal aumentou 3.5 pontos percentuais, estando hoje em 34.7% do PIB, o que é um valor acima do nível desejável de despesa pública. O esforço fiscal que no período 1985-1995 estava 17% acima da nossa capacidade para pagar, continuava em 2015, 3% acima da nossa capacidade para pagar.

Mais, para além da carga e esforço fiscal, o regime fiscal é fortemente abusivo, discriminatório e sujeito a alterações permanentes e contraditórios que não dão segurança aos contribuintes. Contribuintes que, frequentemente, são remetidos para processos contenciosos caros e sem decisão em tempo útil.

Para além de ser uma fonte significativa de corrupção, a fiscalidade instável e discricionária contribui muito pouco para corrigir as desigualdades. Segundo estudo recente da OCDE (2012), Portugal é o 7º país com maior nível de desigualdade de rendimento e onde o efeito redistributivo dos impostos é inferior a 10% e ao de outros países com elevados níveis de desigualdade (por exemplo, Israel e Estados Unidos).

Este inferno fiscal é uma das principais causas do baixo crescimento económico em Portugal. Por isso, uma direita moderna deve pugnar para que:

3.1 O estado não possa cobrar mais impostos do que o estritamente necessário.
3.2 Os impostos devam respeitar os princípios da equidade e progressividade.
3.3 A política fiscal respeite um tratamento equilibrado na tributação do rendimento, da riqueza e do consumo, bem como entre as gerações atuais e futuras.
3.4 Os impostos não devam ser usados para implementar políticas que podem ser mais eficazes através da despesa.
3.5 A natureza coerciva dos impostos não possa ser usada para violar o direito à privacidade.
3.6 As autoridades fiscais não estejam acima da lei ou violem os princípios de um estado de direito (direitos iguais para o cidadão e para o estado).
3.7 A autoridade tributária deve tratar em plena igualdade os contribuintes e o estado.
3.8 Acabar com o proliferar de impostos, taxas e taxinhas, bem como com os abusos na concessão de privilégios e isenções fiscais.
3.9 Abolir a obrigação de pagar antes de poder contestar.
3.10 Reformar a justiça tributária, para torná-la célere e justa.

Thursday, 16 May 2019

A esperteza de Berardo e a burrice das elites Portuguesas


A maioria das análises sobre o caso Berardo parte de um erro. Pensar que foi Berardo que ficou com o dinheiro da CGD. Não foi, ele entregou-o ao BCP!

Imagine que o seu gerente bancário propunha emprestar-lhe dinheiro para comprar um terreno que poderia vender imediatamente com uma mais valia significativa porque o Governo ia lá construir uma estrada de acesso. Se você fosse burro aceitava e assinava tudo o que pusessem à frente, incluindo garantias pessoais.

Ora, as promessas dos banqueiros e políticos corruptos de Portugal não valem nada. Provavelmente a estrada não seria construída e o terreno não valeria nada. No entanto, se você fosse esperto aceitaria o negócio, mas nada de dar garantias pessoais ou então punha os seus bens a salvo. Foi o que Berardo fez!

Aliás, se vivêssemos num país onde os bancos e as pessoas percebiam a lógica da responsabilidade limitada, Berardo nem precisaria de proteger os seus bens pessoais porque eles estariam naturalmente protegidos por lei. É aqui que começa a burrice dos Portugueses. Acreditam em banqueiros e políticos corruptos e não na lógica do mercado.

Quando no século XIX se discutia o princípio da responsabilidade limitada, os seus opositores invocavam com frequência o risco de fomentar trafulhices. Estavam enganados, porque se isso pode acontecer, também aumenta o cuidado em não emprestar dinheiro a quem não for sério ou tiver investimentos irrealistas. E se não o fizerem sofrem as consequências!

Ora, os bancos e a legislação Portuguesa continuam a ignorar essa disciplina que é imposta pelo assumir das perdas pelas más decisões de crédito e querem transferir as perdas para os contribuintes.

Aqui reside a segunda burrice dos Portugueses, acreditar que os bancos públicos são a solução. Não, os bancos públicos são parte do problema. Porque decidem com base em nepotismo e compadrio em vez de uma rigorosa análise de risco.

Bastou a esperteza de um emigrante, que mal fala português, para pôr a nu a estupidez das elites financeiras, políticas e culturais em Portugal. Daí o seu vociferar nos media e redes sociais contra Berardo, não vá o povo interrogar-se sobre porque é que estas coisas acontecem.

Saturday, 11 May 2019

Por uma direita moderna: 2 Menor Estado, Melhor Estado

O capitalismo não dispensa o Estado. Antes pelo contrário, precisa que ele seja eficaz na prestação dos serviços públicos que não podem ser privados (e.g. defesa, segurança pública e social e justiça) mas também como garantia de um bom ambiente concorrencial entre os privados.

Para tal, o Estado precisa de ter autoridade e frugalidade. No entanto, à medida que foi crescendo foi sendo capturado por múltiplos interesses e tornou-se obeso. Em 1900, a despesa pública nas principais economias variava entre 2% do PIB no Japão e 18% na Alemanha, mas hoje essa percentagem é de 43% no Japão e 54% no Reino Unido. A generalização da segurança social, iniciada por Bismarck na Alemanha dos finais do século XIX, foi a principal causa desse aumento. Os gastos sociais representam hoje entre 20% do PIB nos Estados Unidos e 32% na França.

O estado social é um dos principais contributos do capitalismo, mas não deve crescer sem limite. Tanto mais que uma parte significativa das despesas sociais em educação, transportes, saúde e pensões pode ser prestada de forma mais eficiente através do mercado.

Na verdade, se somarmos o valor mediano do período pré-estado social (7%) com a mediana dos gastos sociais na atualidade (26%) verificamos que um valor razoável para a despesa pública será na ordem de 33%.

Por isso, uma direita moderna deve defender um estado forte, mas frugal. Isto é, a direita deve:

2.1 Limitar a despesa pública a cerca de 1/3 da despesa nacional.
2.2 Reduzir o endividamento nacional a um nível consonante com o limite da despesa pública.
2.3 Defender a reorganização administrativa e política do Estado.
(Nomeadamente, reduzindo o número de câmaras municipais para metade, criando círculos eleitorais mais representativos, acabar com os projetos de regionalização no Continente, mas ponderar a descentralização dos serviços centrais ou a mudança da capital para próximo do centro geográfico do país).
2.4 Substituir o atual sistema de segurança social por um sistema com três pilares: um apoio mínimo pago pelos impostos, um sistema obrigatório de capitalização e um sistema voluntário com incentivos fiscais.
2.5 Reduzir o SNS a um sistema de seguro universal e obrigatório para financiamento do acesso aos cuidados de saúde.
2.6 Reorganizar a rede pública de prestadores de cuidados de saúde transferindo para o privado ou para as IPSS a rede de cuidados primários e alterar o modelo de gestão e a rede hospitalar pública para assegurar um melhor serviço e acesso a todos.
2.7 Transferir para o privado e/ou para as autarquias a rede de ensino básico, a ser financiada através de um sistema de cheques educação e transporte.
2.8 Eliminar os subsídios às empresas, sindicatos e organizações patronais que alimentam a corrupção e distorcem a concorrência.
2.9 Acabar com as PPP e outras modalidades de promiscuidade entre o público e o privado.
2.10 Reformar e fortalecer as entidades reguladoras (que hoje são meras sinecuras capturadas pelos regulados).

Saturday, 4 May 2019

Por uma direita moderna: 1 Não ao capitalismo de estado, sim ao capitalismo de mercado

Apesar do contributo inquestionável do capitalismo para a riqueza, igualdade, liberdade e democracia, a economia de mercado continua a ter muitos opositores tanto à esquerda como à direita. Em parte, isso explica-se pela similitude das motivações dos respetivos opositores.

Boa parte das pessoas de esquerda são motivadas pela inveja perante a riqueza dos outros. A origem dessa inveja vem desde os tempos da idade média quando havia mesmo leis que proibiam os não-nobres (comerciantes judeus e outros) de vestir roupas luxuosas que pudessem rivalizar com as que vestiam os nobres. Esta mesma inveja motiva igualmente pessoas de direita, sobretudo as de classe média, que temem que a ascensão dos pobres facilitada pelo capitalismo lhes diminua o estatuto social.

A outra razão para o anticapitalismo, partilhada à esquerda e à direita, baseia-se na crença de que só a gestão centralizada dos recursos económicos é racional e deve ser privilégio do partido (para a esquerda) ou dos privilegiados (para a direita). Por isso ambos defendem as grandes empresas estatais.

Uma terceira confusão das pessoas de esquerda e direita, é sobre quem são os verdadeiros beneficiários do capitalismo. Ambos acreditam que são os capitalistas. Mas isso não é verdade. Como já lembrava Adam Smith no século XVIII, quando dois capitalistas se juntam a sua tendência natural é para conjurar contra eventuais concorrentes. Na verdade, os verdadeiros beneficiários e defensores do capitalismo são os consumidores.

Por isso, uma direita moderna tem de começar por ser partidária do capitalismo de mercado, ou seja:

1.1 A direita deve afirmar-se pró-mercado e não pró-capital
1.2 Repudiar o socialismo e a perversão do capitalismo de estado e oligarca-capitalismo.
1.3 Reduzir o peso do estado na economia Portuguesa. (Privatizar o que deve ser privatizado e acabar com a intervenção do Estado nos negócios privados e na banca).
1.4 Por fim ao subdesenvolvimento do mercado de capitais em Portugal.
1.5 Promover a concorrência bancária em Portugal e facilitar o financiamento internacional.
1.6 Eliminar o excesso de regulação (nomeadamente urbanística) ao nível local e nacional.
1.7 Reduzir a carga fiscal a todas as empresas e não apenas às empresas estrangeiras.
1.8 Acabar com os subsídio e isenções fiscais discricionárias.
1.9 Reduzir os conflitos laborais, regular o direito à greve e promover o diálogo e cooperação entre trabalhadores e empregadores.
1.10 Garantir os princípios base do capitalismo, nomeadamente a propriedade privada, o lucro, a livre concorrência, o primado do direito, a propriedade coletiva e a responsabilidade limitada.